Martinho Árias

Envolto em lenda e mistério, o herói da reconquista cristã e do povoamento de Soure, Martinho Árias ou S. Martinho de Soure, na invocação popular, apesar de não ser natural de Soure, veio para esta localidade quando já era cónego da Sé de Coimbra, com seu irmão Mendo, também eclesiástico do mesmo cabido.

Supõe-se que, após a investido muçulmana e a destruição do castelo de Soure, Martinho Árias foi encarregado de ali restaurar a igreja e de prestar assistência religiosa aos moradores. Esta missão tornava-se ingrata e perigosa porque Soure se situava no limite do território cristão e a população era composta de cristãos e de mouros, que coexistiam na diversidade dos seus cultos e costumes. Lê-se na “Vida de S. Martinho de Soure”, escrita por um monge do Séc.XIII, que era um homem de grande coração e muito querido dos seus paroquianos

Segundo o cronista, em 1144, o governador de Santarém Abu-Zakaharia ocupou Soure, que destruiu e levou cativa parte da população para Santarém, com excepção de Martinho Árias, que foi conduzido a Córdova, onde viria a morrer anos mais tarde.

Quando D. Afonso Henriques, ajudado pelos cavaleiros da Ordem do Templo de Soure, em 1147, conquistou Santarém e libertou os sourenses cativos já Martinho Árias estava em Córdova, não tendo tido oportunidade de presenciar aquilo por que lutou durante toda a vida.
Apesar do seu perfil lendário, S. Martinho de Soure é um símbolo da afirmação e da vontade de autonomia de um povo contra a provação e a adversidade que merece recordação, como sinal inequívoco de identidade.

(Despacho nº 12422/97, de 11 de Novembro)